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Da Geometria à joalharia, Ana Pina


O mundo da joalharia é muito diversificado, no entanto apenas algumas marcas se fazem notar neste vasto mercado. Uma dessas marcas é, sem dúvida, a da Ana Pina. Com inspirações geométricas que se fizeram transportar da sua vocação como arquitecta, Ana alia as técnicas tradicionais ao design contemporâneo criando peças únicas com acabamentos cuidados e materiais rigorosamente selecionados.

Como e quando fizeste a transição do mundo da arquitectura para o da joalharia?
Em 2011 trabalhava há 5 anos num gabinete de arquitectura onde sentia a minha criatividade adormecida. A joalharia surgiu primeiro como um escape, depois como motivo crescente de curiosidade, até se revelar uma decisão consciente de mudar o rumo da minha vida profissional.
Para uma pessoa racional que gosta de ter as coisas sob controlo não foi uma decisão fácil – ao tomá-la mudei, não só de actividade, mas de estilo de vida. Tive que convencer-me de que não estava a deitar fora tantos anos de formação e trabalho em arquitectura, mas sim a usar tudo o que aprendera como uma mais-valia para seguir numa nova direcção.


Sentes que de alguma forma uma área serve de inspiração para a outra? E que outras inspirações acompanham o teu trabalho?
Completamente. A formação em arquitectura foi muito exigente e completa, reflecte-se na minha forma de abordar um problema ou de observar o que me rodeia. Acho que as duas áreas têm muito em comum e não se trata só de uma inspiração a nivel estético ou formal. Em ambas as artes existe um processo que vai da ideia ao desenho, à sua planificação e materialização. Os pontos em comum passam pela criação de um conceito e processo projectual, pelas noções de técnica, proporção, ergonomia e estrutura ou a escolha dos materiais. A maior diferença para mim é que na joalharia posso controlar todo o processo criativo e ver a peça nascer muito mais rapidamente a partir das minhas próprias mãos.
Inspira-me sobretudo o mundo abstracto, relações geométricas, traços que traduzem movimentos, efeitos gerados pela repetição, assimetria, mudanças de escala.


O processo completo de criação de uma peça ou colecção deve ser longo. Quais são os principais passos "obrigatórios" que segues desde a ideia até ao produto final?
Geralmente a ideia começa por traduzir-se num desenho – são desenhos esquemáticos e inconsequentes, raramente representativos. Depois começam a ganhar medidas e proporções, mas muitas vezes é na própria banca, enquanto testo as primeiras peças, que as soluções surgem.
Não costumo pensar em termos de peças isoladas, mas de colecções – do elemento mais simples surgem variantes mais complexas que vão dando sentido ao todo, como se fossem letras que compõem palavras inseridas num texto maior.


O Tincal lab é uma plataforma virtual e atelier de joalharia, fundado por ti. Sentes que a criação desse espaço trouxe mais valias a nível evolutivo para a tua marca?
Depois de cerca de quatro anos a trabalhar em casa comecei a sentir necessidade de crescer para um novo espaço, criar novos ritmos de trabalho, estabelecer parcerias, trocar ideias. O Tincal lab surgiu na continuidade da evolução da marca, não só pela necessidade de criar um espaço de trabalho próprio, mas também da vontade de promover o trabalho de outros autores e a joalharia contemporânea no geral.


O que é possível realizar por outras pessoas nesse espaço? O que é que ele oferece aos visitantes?
O Tincal lab é um espaço de trabalho visitável, onde é possível ver algumas das minhas peças e de outros autores ao vivo. Pode ser visitado durante a semana e também uma vez por mês ao Sábado durante o Open Day – um evento que dá a conhecer o trabalho de um joalheiro convidado, que fica disponível no atelier durante o mês seguinte.
O atelier tem disponíveis bancas para arrendamento por outros colegas joalheiros que procurem um espaço de trabalho equipado, que lhes ofereça as condições e o convívio que não podem ter trabalhando sozinhos em casa.
Pontualmente realizam-se workshops, que mais do que ensinar uma técnica reflectem a abordagem particular do autor que os promove – como é o caso da Modelação em Cera, com a Susana Teixeira, decorrido no final de Abril, e o de Fold Forming, com Gustavo Paradiso, um joalheiro argentino actualmente em Espanha, que estará no Tincal lab a 4 de Junho.
Procuro promover um ambiente descontraído, inspirador e de entre-ajuda.


Existe alguma coisa que tenhas muita vontade de fazer na área da joalharia contemporânea que ainda não tenhas feito?
Adorava experimentar novos materiais, combinados ou não com a prata com que habitualmente trabalho – a cerâmica, por exemplo, o que poderá acabar por levar a colaborações com outros artistas. Existem algumas técnicas na área da joalharia que também gostava de explorar mais, como é o caso da modelação em cera.

Quais são os teus planos para o futuro para a marca? 
Continuar a crescer, desenhar novas colecções, aceitar novos desafios, encontrar novos pontos de venda em Portugal e no estrangeiro.


Com que hobbies ocupas o teu tempo?
Gosto muito de ler e ouvir música, ver um bom filme, experimentar novas receitas, passear pela minha cidade (e por outras) na companhia da câmara fotográfica, planear a próxima viagem.

Que livro andaria sempre contigo?
Poesia Completa, de Miguel Torga. Sinto que podia todos os dias abrir o livro numa página e descobrir uma coisa nova, mesmo nos poemas favoritos que já reli dezenas de vezes, sempre com a mesma sensação de maravilhosa descoberta.

Que filme verias vezes sem conta?
O Paciente Inglês. Não me considero uma pessoa romântica, as histórias de amor com final cor-de-rosa dizem-me muito pouco, mas a intensidade dramática de um amor tão impossível como inevitável faz-me acreditar que o amor pode viver para sempre. “For the heart is an organ of fire.”

Numa palavra como definirias o trabalho de um designer de joalharia?
Desafiante.

Podem ver estas e outras peças feitas pela Ana no seu site e nas redes sociais como facebook, instagram e pinterest e ainda acompanhar os eventos e novidades da Tincal lab no facebook.


Imagens retiradas do Flickr.

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