Deu vida a um simpático urso chamado Norberto nas suas zines e já viu algumas das suas ilustrações em edições de publicações portuguesas. Actualmente deixa-se inspirar pela cidade de Londres, onde vive, e hoje fala-nos um pouco mais do si e do seu trabalho aqui no blog.
Como foi o teu percurso académico e que inspirações e lições tens em conta ainda hoje?
Foi na Faculdade de Belas Artes (Universidade de Lisboa) que conclui a minha licenciatura (Arte e Multimédia) e neste momento estou a fazer Mestrado em Ilustração na Camberwell College of Arts (University of Arts London). Tive um percurso académico normal e penso que fui sempre muito autodidacta. Por isso mesmo, a grande lição que tirei das minhas aventuras académicas é nunca desistir de aprender coisas novas e aprofundar conhecimentos.
O facto de viveres na cidade londrina tem influência na tua criatividade enquanto ilustradora? Quais foram até agora as oportunidades que te deixaram mais feliz e que surgiram em Londres?
Tudo influência o meu trabalho. Eu sei que é uma resposta um pouco cliché, mas na minha opinião é assim que funciona. A cidade onde cresci influenciou me de uma forma completamente diferente que Lisboa me influenciou. Por isso não me admira que Londres também me influencia de uma forma diferente. Penso que o mais distinto em Londres é a mistura de culturas que por aqui encontras. A arquitectura e as ruas, que em Lisboa também era das minhas grandes inspirações, acaba por aqui ser também algo que me inspira bastante.
A oportunidade de estudar em Londres, que não é algo que eu tomo como fácil, foi das oportunidades que me deixaram mais feliz. Talvez porque quando estamos “a estudar”, os projectos são deixados completamente ao teu encargo e imaginação e acabas por aprender mais do que num projecto comissionado. Tens mais liberdade e flexibilidade de escolhas.
Tens tido alguns projectos ligados ao mundo editorial, nomeadamente para a Visão7, QI (Diário de Notícias), Gerador, Sábado, Volta Ao Mundo, entre outros. O que é para ti mais desafiante nesse campo?
Definitivamente o tempo. O facto de teres que ter uma ideia rápida que te vai deixar, e ao cliente, contente com o resultado. Para mim trabalhar sobre pressão, no fundo, torna a tarefa mais fácil. Apesar de achar frustrante às vezes, é quando tenho mais ideias e trabalho com mais eficiência. Gosto de ter as datas, dias e horas contados para trabalhar bem.
O Norberto surgiu em conversas com um amigo. Surgiu como uma espécie de personagem fictício com que gozávamos e usávamos para dizer parvoíces um ao outro. Talvez eu lhe tenha dado uma personalidade mais distinta nas minhas zines, dado a que sempre o usámos como algo que todos os dias podia ser algo diferente.
O processo criativo foi mais ou menos o mesmo que uso para quase tudo. Primeiro tento definir a ideia geral com apontamentos e esboços do que poderá vir a ser o objecto final; depois escrevo a história e quando a planificação da zine estiver finalizada começo as ilustrações.
Sem dúvida que sim, e inclusive uma quarta zine está começada, mas por falta de tempo continua na gaveta. Duas das ideias para o futuro do Norberto é fazer uma espécie de livro digital animado e traduzir as histórias que já tenho.
Quais os projectos que consideras que representam o que és e que serviriam, sem dúvida, como cartão de visita para quem não te conhece?
Acho que não consigo escolher um exactamente … mas posso sugerir as minhas zines e os meus diários gráficos. As zines escolheria principalmente as da série “Pretty …”, onde já tenho 3 feitas e estou a preparar uma quarta. São todos impressas à mão (linóleo, 2 cores), e geralmente focam se num tema que eu gosto. É um projecto puramente visual.
Por outro lado os diários gráficos têm de tudo: sítios onde fui, esboços para projectos, ideias escritas, rabiscos, experiências, etc. Penso que o diário gráfico é sem dúvida a melhor ferramenta de trabalho para alguém que trabalha nesta área, é uma espécie de registo/arquivo de resultados, bons e maus.
Certamente existem temáticas e técnicas que ainda não exploraste ou que gostavas de aprofundar mais no teu trabalho. Quais são?
Tenho feito algumas coisas em cerâmica ultimamente e gostaria de continuar a explorar mais este campo. Gostava de aprofundar também os meus conhecimentos em serigrafia e escrita criativa.
Com que hobbies ocupas o teu tempo?
Desenhar é sem dúvida o maior, apesar de usar sempre os resultados para trabalho ou mesmo para testar materiais, entre outras experiências. Por isso não sei até que ponto posso considerar desenhar um hobby …
Ir ao cinema é das coisas que gosto mais de fazer ou passear e ver sítios. História é outro tema com que ocupo os meus tempos livres!
Que livro andaria sempre contigo?
Uma escolha difícil, mas talvez o Barão Trepador do Italo Calvino. Uma professora das Belas Artes aconselhou me a ler este livro e desde então passou a ser um dos meus favoritos. Não só porque me identifico com a personagem como também por ser uma história tão imaginativa, que mostra que obstinação e luta dão sempre frutos, mesmo para o mais solitário dos seres. Para mim é uma mensagem de esperança.
Que filme verias vezes sem conta?
Uma escolha ainda mais difícil. Por ser das minhas coisas favoritas é quase impossível para mim escolher um só filme. Por isso vou fugir aqui um pouco às regras e dizer alguns dos meus realizadores favoritos: Stanley Kubrick, Michel Gondry e a dupla Jean-Pierre Jeunet & Marc Caro estão no topo das minhas escolhas. Via os filmes deles todos os dias se fosse possível ;) com alguns filmes noir à mistura!
Numa palavra como definirias o trabalho de uma ilustradora?
Inspirador.
Para acompanharem o trabalho da Margarida podem seguir a página de facebook e o instagram.
Que ilustrações deliciosas, Mariana! Gosto sempre de me vir inspirar ao teu cantinho :)
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