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Entre histórias e cãotigas de amor, Missphips


A Filipa Lacerda, também conhecida como Missphips, tem sempre papel e caneta por perto, servindo de suporte para tudo o que vai surgindo no mundo e na sua cabeça e hoje fala-nos do seu percurso e de alguns projectos que o marcaram.

O que é que mais te inspira e te faz correr até ao papel para rabiscar?
Às vezes sinto-me um esponja. Tudo o que vejo e oiço acaba por de uma forma ou de outra levar-me a fazer certas associações que aterram no papel sob forma de um rabisco.
Estou quase sempre com uma caneta à mão, por isso os desenhos acabam por nascer mesmo nos momentos mais parados, mas acho que é durante as fases em que tenho mais trabalho e estou mais atarefada, que me acabam por surgir as ideias mais genuínas. O meu cérebro procrastinador arranja maneira de me distrair das minhas responsabilidades e começa a provocar-me: “Vais mesmo fazer isso agora? Olha esta ideia para um desenho que podias fazer.” E eu quase sempre respondo: “estááá bem, tens razão. Mas só mesmo este e tem de ser rápido.”
E assim é, só que às vezes não é assim tão rápido.

Viajar também me inspira bastante.
Voltar de uma viagem é trazer uma mala cheia de sonhos novos por desenhar.


O que são e como surgiram as cãotigas de amor?
As cãotigas de amor surgiram quando uma amiga me propôs uma ilustração para o seu novo site associada a um dos meus livros preferidos, o "cãopêndio" ilustrado por António Fernando dos Santos(1918-1991).
A publicação iria sair no dia de São Valentim, por isso achei que fazia sentido o tema mais “romântico”, que mostra também um pouco da minha “pequena obsessão” pelo meu cão. Gostámos tanto da experiência que a "ilustração" logo virou uma pequena "cãoleção", que brevemente tenciono transformar numa fanzine.


Actualmente, pode dizer-se que vivemos numa sociedade mais alerta em relação ao feminismo. O que significa para ti o projecto do Alfabeto feminista e que mensagem gostarias de transmitir a quem te acompanha no desafio #36daysoftype no teu instagram?
Acho que posso dizer que venho de uma família “feminista”, a minha tia avó foi das primeiras mulheres (se não mesmo a primeira) a divorciar-se e usar calças em Moçambique, por isso trago no sangue muito dessa herança e forma de estar. Defendo a igualdade de direitos não só entre homens e mulheres mas entre todos os seres humanos, independentemente das suas religiões, etnias, classes sociais, etc.
O alfabeto feminista, no entanto, não surge tanto como “grito de guerra”, mas como uma espécie de terapia pessoal que tenta mostrar a mais mulheres que temos de nos aceitar exatamente como somos - gordinhas, magrinhas ou sem maminhas - e que não podemos deixar de ser felizes ou de seguir os nossos sonhos por nos sentirmos desvalorizadas, só porque tudo na sociedade nos inclina a achar que não somos suficientemente bonitas, inteligentes, fortes ou capazes… Pertendo com estes desenhos ajudar a que seja mais fácil aceitarmo-nos tal como somos e a encontrarmos beleza nas nossas “imperfeições”.


Quais são os materiais que utilizas nos teus trabalhos que não abdicas nunca?
Nunca abdico do lápis ou da caneta. Analógicos mas também digital. Confesso que recentemente me rendi às novas tecnologias e sinto uma diferença muito grande no resultado das ilustrações. Antes de desenhar com o tablet era muito difícil trabalhar a cor e agora sinto-me quase uma profissional a preencher desenhos que antes gostava mais de ver só a linha.

Para ti, quais são as principais diferenças no que diz respeito ao processo de trabalho nas áreas da ilustração, design e arquitectura?
Na minha opinião existem quatro grandes diferenças que influenciam os processos de trabalho das três áreas – a existência (ou a força) de um cliente, o nível de rigor imposto, a responsabilidade que temos como profissionais e o período de duração até à conclusão da obra.
Para mim, ilustração (a minha) é liberdade, terapia e introspecção. Não depende de mais ninguém a não ser eu. Pode ter o rigor que eu quiser e levar o tempo que eu achar necessário.
O design já exige mais de rigor e é muitas vezes confrontado com a opinião muito forte dos clientes. Isto dentro do limite de tempo que nos é dado, que não costuma ser muito grande.
A arquitectura, por sua vez, quase que depende totalmente do outro, do “para quem é que se está a planear o edifício” e tem um nível de rigor e responsabilidade enormes e vários layers de exigência envolvidos no mesmo problema, que a partir de um ponto deixa de ser um trabalho criativo e passa a ser quase que puramente matemático...  É dos três, o processo mais trabalhoso e demorado.
Apesar das muitas diferenças, acho que todos partilham o mesmo início, que a meu ver, é algo um quanto “divino” e é de onde nasce a inspiração e surgem as ideias. Sendo que idealmente, todas as três áreas deveriam também, direta ou indiretamente, servir o mesmo fim: o bem da humanidade.

Ah, esqueci-me de falar da cor e é importante. Os arquitectos vivem num mundo monocromático, os designers e ilustradores trazem consigo todas as cores do mundo.


Com que hobbies ocupas o teu tempo?
Ocupo o meu tempo a desenhar, a ser voluntária e organizar o TEDxUniversityofPorto, a viajar, a ler, a ouvir música, a inventar receitas, a ver séries e filmes, a surfar na internet, a colar no pinterest, a colar no instagram, a ir ao ginásio, a jogar jogos de tabuleiro com amigos, ou sozinha na DS, a fazer listas de coisas que tenho para fazer e a sonhar com coisas que nunca vão acontecer …
Gostava mesmo muito de passar mais tempo em contacto com a natureza e meditar.

Que livro andaria sempre contigo?
É-me mesmo muito, mas muito difícil selecionar só um livro ou só um filme. Eu andaria sempre com vários. Mas de momento diria qualquer um do Mia Couto, porque me transportam a casa e eu tenho saudades de casa.


Que filme verias vezes sem conta?
Já tinha dito que me é mesmo muito, mas muito difícil selecionar só um livro ou só um filme? Ou um sabor de gelado preferido? Fico sempre arrependida com as respostas que dou e acho injusto para todos os outros não escolhidos termos de eleger só um.
Acho que o filme que vi mais vezes na minha vida foi o Matrix, porque na altura eu e as minhas amigas estávamos um bocado obcecadas e tínhamos demasiado tempo livre. Continua a ser um excelente filme, adoro tudo o que as irmãs Wachowskis fazem - desde o Cloud atlas ao Sense8. Mas não me importava de ver o Hiroshima mon amour vezes sem conta, nem o O grande ditador, nem o Rei Leão, nem o Avatar, nem... tantos, mas tantos outros que nunca saberia como poderia escolher… Desculpa.

Numa palavra como definirias o trabalho de um ilustrador?
“Euseilá”. 


No instagram, facebook e blog da Missphips podem encontrar mais sobre o seu trabalho e seguir todas as novidades.

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