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Chapters & Scenes #3 - Contos de S. Petersburgo


O tema de Dezembro do Chapters & Scenes é contos e com ele surgiu uma óptima oportunidade para ler Gogol, um autor que marcou sobretudo a literatura clássica russa, pela sua espontaneidade e abertura para temas e estilos até então pouco desbravados. A sua influência foi permanecendo no tempo e para além da sua imagem em moedas comemorativas podemos ver o seu nome em várias ruas espalhadas pelo mundo e assistir a pelo menos 35 filmes baseados na sua obra.


Contos de S. Petersburgo é um conjunto de seis contos num único livro e entre eles estão os que são considerados os mais importantes da obra de Gogol - O Diário de um Louco, O Nariz e O Capote e a edição da foto é da Saída de Emergência.

Apesar de estar a ler o livro completo vou apenas falar-vos d’ O Nariz que foi até agora o que mais gostei e que considero espelhar exatamente o que é a escrita do autor. A crítica social e ética está por toda a parte ainda que camuflada (e muito bem) com humor e um toque de sarcasmo. É impossível não fazer comparações com a narrativa d’ A metamorfose de Kafka, porque tanto um como outro nos convidam de uma forma muito leve a entrar num mundo surreal para nos mostrar o que mais importa fora dele e isso para mim é a sua maior genialidade.

Bem, O Nariz é a história de quando um “senhor do seu nariz” perde realmente o nariz e se sente perdido no meio da incerteza de estar louco e não saber o que fazer para reverter tal situação que o transtorna a toda a hora. Como se pode já imaginar, tudo nela flutua no inesperado e inexplicável sem nunca deixar que se perca a curiosidade em saber quais os próximos acontecimentos (porque na verdade é possível achar-se que quase tudo pode acontecer). A descrição dos locais e das figuras é-nos apresentada de uma forma muito detalhada inicialmente, como se o próprio Gogol estivesse lá, mas quando se desenrolam as ações chave do conto, o ritmo acelera, e o tempo parece andar a outra velocidade que não conhecemos, fazendo-nos abstrair do ambiente em redor desses momentos por vezes sem sentido lógico aparente.
Apesar de sermos transportados para outra época podemos rapidamente fazer uma ponte para a atualidade , mesmo com um intervalo de mais de 170 anos e, por ser breve, não há muito que possa contar sobre ele sem revelar demasiado.

É uma leitura agradável que aconselho, principalmente se ainda não conhecem o escritor.

Mais informações do projecto aqui.

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