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Do desenho à escultura, Ricardo Ladeira Carvalho

Com inspirações na natureza comportamental humana, desde cedo ligou-se a este mundo de representar as suas próprias histórias e personagens. Mas foi através da ilustração e da escultura que tudo o que lhe passeava pela mente teve uma forma de ser expressado e apresentado ao público. Hoje aqui no blog, conheçam um pouco do talentoso percurso do Ricardo Ladeira Carvalho.

Como surgiu o teu interesse pelo mundo das artes?
Cedo. Sempre adorei brincar ao faz de conta, inventava histórias e personagens em qualquer lado onde estivesse e levava isso muito a sério. Havia aventuras que podiam levar dias e dias e mantinha a personagem sempre que possível. Apesar de não haver cenários ou um guarda-roupa indicado, na minha cabeça existiam e era tudo muito complexo e detalhado. Tive então a necessidade de passar tudo isso para o papel, porque para mim de alguma forma essas imagens tinham de existir fora da minha cabeça. Assim sendo, este foi o meio que encontrei para lhes dar vida e para que não fossem esquecidas. Começou o gosto de registar o que imaginava.



Quando começaste a fazer trabalhos de escultura? Quais são as tuas inspirações nessa área?
Quando era miúdo adorava mexer e moldar plasticina e tudo o que era trabalhos manuais para mim era um mimo, mas nunca levei isso muito a sério. O gosto estava aqui dentro mas foi apenas no secundário que se revelou como algo mais importante. Sempre fomos muito estimulados na disciplina de desenho, a experimentar diferentes materiais e técnicas, onde havia muita liberdade. A primeira peça foi um Super-Santo-António em pasta de papel. Mas o click surge no 12º ano, aquando do projecto final de Multimédia. Nessa altura andava viciado em filmes de animação stop motion, especialmente os do Tim Burton e juntamente com o meu colega Diogo Monteiro decidimos fazer uma curta-metragem inspirada nos filmes dele. Foi nesse momento, de desenhar e construir personagens que me apaixonei pelo processo de ver algo a sair de um desenho e a ganhar vida, é simplesmente mágico. A partir deste momento comecei cada vez mais a criar peças tridimensionais e espero não parar. Hoje em dia as minhas inspirações continuam muito ligadas ao cinema de animação, principalmente ao realizador português José Miguel Ribeiro.



Habitualmente que ferramentas dominam o teu espaço de trabalho?
No meu mini-atelier existe um pouco de tudo, imensos materiais e muita tralha. Muita tralha, porque a qualquer momento tudo pode dar jeito. Mas sempre por perto, estão os meus cadernos, lápis de cor e de grafite, pincéis e materiais de escultura assim como uma embalagem de massa de modelar. Para além disto existe outra ferramenta que está muitas vezes presente, a música.



As tuas esculturas são um espelho fiel das tuas ilustrações em papel. Sentes que as duas de alguma forma se complementam?
Sinto que sim, seguem a mesma linha e a escultura tem muito das ilustrações pois surge a partir daí, de um rabisco ou de uma ilustração que nem tinha por objectivo o formato tridimensional mas que de alguma forma me chamou a atenção para recriar em escultura. Seja como for, nasce primeiro no papel. Como criativo é um bom exercício comparar um desenho e a sua versão tridimensional, por serem duas formas de expressão diferentes e pela tentativa de manter sempre um traço idêntico.



O nu é uma presença habitual nos teus trabalhos. Existe alguma razão conceptual para que isso aconteça?
Sim, existe. Agrada-me representar um ser como ele verdadeiramente é e nós somos assim; as roupas são uma invenção, não são algo natural e nós humanos somos. O humano é um ser extraordinário, as suas atitudes, pensamentos e emoções são talvez a minha maior fonte de inspiração. Gosto de recriar esses momentos e situações de uma forma metafórica, principalmente quando abordo um tema mais delicado, tento mostrar as pessoas como elas são, sem camadas ou preconceitos. Contudo não é algo que tem de acontecer sempre, depende do tema e da forma como imagino o desenho, às vezes as roupas estão a mais, outras vezes não.



Tens e utilizas frequentemente um diário gráfico? Se sim o que podemos encontrar nele? Enquanto criativo consideras que é importante ter esse suporte pessoal?
Ando sempre de mochila e nela estão sempre 3 cadernos de desenho, um estojo e uma capa com desenhos soltos. Sempre. Diários gráficos são essenciais, obrigatórios. Em qualquer lado podem ser grandes companheiros, seja no café ou numa sala de espera. Quando se tem uma ideia não há nada melhor do que despejar logo no caderno, quanto mais fresca melhor. Isto não acontece todos os dias, mas acontece. Ando com os cadernos por este motivo e simplesmente para passar tempo, esboçar qualquer coisa, faz-me logo sentir melhor. Em relação ao que se pode encontrar, bem acho que um bocadinho de tudo: esboços, ideias, testes, riscos, mais riscos e muitas personagens a ganhar vida pela primeira vez.


Qual foi o trabalho que, até agora, te deixou mais contente com o resultado?
Nunca estou satisfeito, virtude ou defeito não sei, deve andar no meio-termo. É norma eu achar que o último é sempre o que me deixa mais contente, porque é nesse que estou concentrado e entretanto vou-me desligando lentamente dos outros. Apesar deste “desligar”, tenho sempre uma grande relação emocional com tudo o que crio. Se tiver de escolher uma peça, talvez a “Vítima”, o resultado deixou-me muito feliz, porque ficou exactamente como tinha imaginado e quase que nem fiz esboços para escultura, foi um processo muito natural, quase como uma simbiose entre homem e matéria. É muito raro conseguir que o produto final fique mesmo como se imagina, pode ficar muito parecido, mas igual é difícil e esta peça excedeu as minhas expectativas.


Com que hobbies ocupas o teu tempo?
Tenho dificuldade em chamar trabalho ao que faço, por gostar tanto, por isso é um género de mistura entre os dois. De resto, adoro ir ao cinema, chego a ir mais do que uma vez ver o mesmo filme. Vejo algumas séries e leio bastante banda desenhada de autor. Outra grande paixão é jogar futebol, muito mais jogar do que propriamente ver. Um hobbie mais recente é um género de colecção de action figures de personagens da cultura pop (Bd’s, cartoons, cinema, etc). Sou louco por bonecos, louco.

Que livro andaria sempre contigo?
Isto é muito complicado de escolher mas talvez “O Carteiro de Pablo Neruda” de Antonio Skármeta. Sou muito esquisito e exigente com livros, já li este várias vezes desde o secundário e mexe sempre comigo. Esta história é tão simples mas tão cheia, com um humor suave e requintado. A cena de amor do carteiro e de Beatrice é das melhores coisas que jamais foram escritas, até dá uns arrepios na espinha, tão bom. Este livro que homenageia a palavra e a metáfora, preenche-me. Dá me vontade de deixar tudo e ir exercer a profissão de carteiro para a pequena Isla Negra.

Que filme verias vezes sem conta?
“Cinema Paraíso” de Giuseppe Tornatore. Primeiro, é o filme mais bonito de sempre, ponto. Segundo, este filme é sobre cinema e retrata-o de uma forma única, pelos olhos de uma amizade invulgar e ao mesmo tempo deliciosa. Terceiro, a banda sonora é qualquer coisa, se a nossa vida tivesse uma banda sonora, eu queria aquela para mim. Como diz o actor Salvatore Cascio: “Cinema Paradiso is about the power of dreams”. Eu já o vi tantas vezes, comove-me sempre e aquela cena final deixa sempre um friozinho na barriga. Se me perguntares o que é cinema, eu digo-te, vê o “Cinema Paraiso” e depois falamos.
 “Alfredo, Alfredo é belíssimo”

Numa palavra como definirias o trabalho de um artista plástico e ilustrador?
Fundamental.

Para que não percam as novidades do trabalho do Ricardo podem segui-lo nas redes sociais, facebook e instagram.


Todas as imagens foram gentilmente selecionadas e cedidas pelo artista. Créditos da primeira imagem: Salomé Reis © Cultur'Arte Mag.

3 comentários

  1. Adorei esta tua talk e o trabalho do Ricardo. Deu-me vontade de lhe elaborar um perfil para o Espalha-Factos. O trabalho dele é realmente impressionante e tu és uma miúda cheia de olho! Parabéns por este cantinho tão inspirador!

    www.espalhafactos.com/author/raquel-silva
    www.iwandersoiam.wordpress.com/

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    1. Muito obrigada Raquel! :D

      um grande beijinho*

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