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As cidades e mesas portuguesas da Helena Loução


Encontrar o seu trabalho numa daquelas lojas de lembranças que normalmente fazem as delicias dos turistas foi como uma lufada de ar fresco para mim. Não há nada melhor que ver a nossa cultura a ser representada por ilustrações tão bonitas e cuidadas. Na entrevista de hoje, Helena Loução e os seus postais cheios de encantos e tradições portuguesas.


Ilustração ou design. Actualmente, qual dos dois preenche a maior parte do teu tempo e como é que se relacionam as duas áreas na tua vida?
Se formos a separar as duas, ilustração é a área que preenche mais tempo, em que me foco e em que me sinto concretizada, mas na verdade não a consigo ver como uma área separada do design, sempre presente na metodologia, paginação e composição, tipografia, edição, produção, e nem que seja, no olhar e na forma de pensar.


Qual é o teu local favorito para desenhar?
Gosto que o local de trabalho varie, que seja preferencialmente um jardim (desde que não chova), penso que por estar perto da natureza, a nossa origem, e ao ar livre para arejar as ideias.

Uma mesa portuguesa - ilustrada com certeza, é uma coleção de algumas receitas tradicionais da gastronomia portuguesa. Como surgiu esta ideia e porquê em formato de postal?
“Uma mesa portuguesa” é um projecto originado pela minha vontade em ilustrar receitas, que nasceu da união de duas áreas que me apaixonam, o desenho e da cozinha. O desenho aqui serve como forma de comunicar algo que costuma ser feito através da palavra, às vezes de forma extensa e confusa. A minha utopia era comunicá-las apenas com recurso ao desenho e de forma simplificada, sem nunca comprometer a sua função. Não gosto de seguir receitas, perco-me nas mil indicações e cozinhar perde o seu lado mais divertido, o experimental.
Estas foram as primeiras receitas que ilustrei como um conjunto. Até aí, tinha ilustrado umas receitas criadas por mim, mas sem nada que as unisse… e a receita de tortilla, a primeira, noutro formato, sete quadros em A4 com cada passo ilustrado. Até chegar a este conjunto de receitas foi necessário um processo de amadurecimento do conceito e do objectivo, do design e da ilustração, e de mim própria. A ilustração de receitas foi uma ideia que surgiu poucos meses depois de ter terminado a licenciatura e que foi ganhando força à medida que levando esta ideia de ser ilustradora, por conta e risco, mais a sério. São receitas portuguesas, porque encontrei nessa identidade, histórias e tradições de um país, que se revelam numa ligação afetiva pela sua gastronomia e no hábito português de partilha de momentos em volta de uma mesa. Por esta razão, um suporte sólido para ser trabalhado e um assunto que me interessava explorar. Daí o formato postal, um formato que tem como função ser partilhado e assim incentivar a  partilha… de historias, memórias e sentimentos. E sim, as pessoas ainda enviam postais!

 

Já ilustraste postais de importantes referências portuguesas como Lisboa e Óbidos. Como te inspiras para criar imagens representativas desses locais? Que outras cidades portuguesas ou estrangeiras gostavas de desenhar e ainda não tiveste oportunidade?
Esse é um projecto que não requer inspiração, apenas observação. Torna-se um exercício, uma espécie de meditação. Não segue nenhum fio lógico ou planeamento, é um trabalho continuo e espontâneo. No caso de Lisboa e Óbidos, são locais que fazem parte do meu dia-a-dia, e desenhá-las são uma forma de explorá-las e de estar a sós com elas. Quando viajo gosto de arranjar um tempo para isso também. Se estiver acompanhada tento pôr essas pessoas a desenhar também (às vezes consigo). Não tenho nenhuma lista, mas as cidade onde irei nos próximos tempos serão Paris, Cracóvia e Londres, por isso podem-se esperar uns postais vindos de lá.

 

Por vezes é difícil manter um crescimento constante enquanto artista criativo. O que fazes para melhorar a tua criatividade e combater bloqueios criativos que possam surgir?
Bem… eu não espero que seja constante, há sempre fases, momentos, dias melhores ou piores, é um caminho irregular. As formas que encontro de melhorar a criatividade, e não só, para melhor “produzir”, são ser curiosa quase por predefinição, procurar a novidade no meu dia a dia; interessar-me, aprender, pesquisar… fazer trabalho de campo e pôr as mãos na massa para melhor compreender e comunicar o tema que estou a trabalhar; estar em movimento entre lugares e projectos, ideias e pessoas; fugir da rotina e fazer com que cada dia tenha algo de diferente; ter a cabeça livre para pensar e as mãos livres para fazer acontecer; fazer o que me dá no coração, porque muitas vezes a cabeça pensa demais; desfrutar do processo e reconhecer cada conquista por mais pequena que possa parecer; respeitar o meu ritmo e o tempo das coisas; errar e aprender com os erros; não esperar a perfeição.
Facilmente se torna um trabalho solitário e isolado, portanto faço por não me fechar num casulo e estar consciente do mundo que me rodeia, porque não posso se não sentir-me agradecida por poder fazer aquilo que gosto (claro que com a sua conta e risco, mas sair da zona de conforto foi uma opção). Quando me esqueço disso e me deixo levar pelos receios e preocupações insignificantes, os bloqueios surgem e aí tenho de voltar a recordar.


Na ilustração, comida e locais são definitivamente a tua praia. Que projectos gostavas de realizar fora da tua zona de conforto? E quais são os trabalhos que tens em mãos neste momento?
De momento tenho várias encomendas em mão, algumas relacionados com a cozinha e a comida. Na última semana estive a trabalhar num convite e no menu, preçário e rótulo vinho do restaurante Ja!mon Ja!mon, e em breve começo a desenhar a história ilustrada do azeite 20 Oliveiras. A cozinha é uma área em que, sim, me sinto confortável, mas que me apaixona e enquanto existir assunto para aprofundar e sentir que é este o caminho, vou continuar. Trabalhar, confiar e deixar acontecer. Interessa-me explorar as propriedades dos alimentos, a sua produção e confecção; a relação entre a comida e as pessoas, as suas emoções e os seus comportamentos e a comida como veículo de transmissão de sentimentos; a partilha dos momentos em volta da mesa e os momentos em que se cozinha em conjunto, em que se partilham conhecimentos e experiências. Não necessariamente apenas através da ilustração.
Poderei abordar outros suportes, técnicas e trabalhar em conjunto com outras pessoas.


Com que hobbies ocupas o teu tempo?
Vão mudando. Ultimamente são ir à praia fora da época balnear e as aulas de yoga têm sido mais frequentes, tanto que só vou descansar quando conseguir pôr os pés atrás da cabeça. Quero aprender a surfar, mas ainda só tive 2 aulas e foram há 4 anos. Viajar, ir a uns concertos de vez em quando, estar com as pessoas de quem gosto, sair sem planos e horários; inventar e cozinhar sobremesas sem açúcar, farinha de trigo e manteiga ou óleo e comida no geral mais “saudável”. E desenhar claro!

Que livro andaria sempre contigo?
Não tenho uma livro preferido, tenho poucas coisas preferidas. Tenho uns que fizeram mais sentido num momento, e outros noutro. 
Ultimamente tenho um habito terrível, começo a ler livros e não os acabo… Tenho-os em cima da mesa de cabeceira e vou lendo porque também não gosto de ler mais do que um de cada vez. O último que terminei foi o Metamorfose, encontrei nele uma angústia que não desaparecia, li-o até ao fim sempre com esperança que melhorasse… Rápido e devagar: duas formas de pensar pelo meu interesse em criatividade e na forma como pensamos. De vez em quando lembro-me do Principezinho, um livro não envelhece e que já li mais do que uma e ainda para mais tens ilustrações lindas. E agora, porque as pessoas não leem as coisas até ao fim, posso confessar que li o Harry Potter mais do que uma vez…

Que filme verias vezes sem conta?
A resposta é semelhante à anterior, não tenho nenhum filme que seja o meu preferido. Gosto dos filmes de Tim Burton e o Woody Allen… do primeiro, Big Fish, uma lição para aprender a contar histórias; E há uns anos que vou seguindo o que aparece de cinema francês… “Que mal fiz eu a Deus” por ter sido o que filme que mais me fez rir nos últimos tempos; E ainda tenho aqueles filmes que via até a cassete se estragar, Alice no País das Maravilhas e o Peter Pan, da Disney, que marcaram a minha infância. No primeiro, adoro a loucura desde o inicio ao fim, o facto de nada fazer sentido mas até fazer, e o Peter Pan porque nunca quis crescer.

Numa palavra como definirias o trabalho de uma designer de comunicação e ilustradora?
Livre.

Se gostaram de conhecer o trabalho da Helena Loução, não há nada melhor que passar pelo site e pelas redes sociais , instagram e facebook, para seguir todas as novidades. Para além destes sítios podem ainda contar com a loja online para se deliciarem com todos os postais.

2 comentários

  1. Mariana, eu adoro postais e sou daquelas pessoas que ainda envia e que faz colecção. Sou uma fã assumida do postcrossing.com e fiquei maravilhada com o trabalho da Helena. Tenho de encontrar esses postais rapidamente!

    www.meeksheep.com
    www.thinksupernova.wordpress.com

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  2. as ilustrações da helena são lindíssimas. os cartões com as receitas são uma maravilha. obrigada por me dares a conhecer o seu trabalho!

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