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Ilustrações de bichanos reais, pela Filipa Namorado



No momento de adoptar um animal de estimação, os mais jovens, saudáveis e bonitos (de acordo com os padrões pré-concebidos) são os mais escolhidos e os que normalmente permanecem menos tempo em FAT ou abrigos. Infelizmente para trás ficam muitos outros. Estes não são gatos que cumprem o padrão de beleza, agilidade ou saúde, mas são gatos. Merecem muito, tal como qualquer outro animal. E é mesmo desses que vamos falar hoje.


O ano passado, a Filipa Namorado embarcou num projecto que, sem dúvida, ajudou a dar uma nova vida e notoriedade a uma causa muito nobre, a da Bichanos do Porto e conta-nos que "Na altura em que comecei a decidir e planear o que iria ser o meu projecto final de curso, investiguei várias associações locais (um dos requisitos do projecto era o facto de termos que trabalhar dentro da cidade do Porto, por isso essa parte já estava delimitada). Escolhi a Bichanos do Porto porque era dos grupos mais pequenos e com menos popularidade cibernética e, por isso mesmo, com menos alcance, o que me levou a pensar que a minha ajuda era melhor empregue junto deles. "

Para quem não a conhece, a Filipa é uma jovem artista que desde cedo teve uma forte ligação à arte e à ilustração, e claro aos animais, e podem ir estreitando o seu trabalho no facebook.
"Acho que não sou excepção à maior parte dos artistas; durante a infância comecei a experimentar com lápis, canetas, marcadores, enfim, tudo o que tivesse à mão. Quanto ao que inspirou esse comportamento, acho que há dois “culpados” mais óbvios: os desenhos animados que via na televisão, que nos anos 90 começaram a ser abundantes nos canais infantis, e a minha irmã, que também desenhava. Ver isso, ou seja, ver o que as outras pessoas conseguiam fazer só através do desenho dava-me vontade de os tentar imitar e ver até onde conseguia chegar."


Algumas das ilustrações são o espelho da história de um animal em particular e todo o trabalho de pesquisa e compreensão dos seus objectivos perante a Bichanos foi essencial. Foi-lhe possível conhecer as vidas dos protagonistas felinos das respectivas FATs e as suas características únicas.
"Quando me sentei inicialmente para conversar com a Mafalda Azevedo, uma das representantes da Bichanos do Porto e também quem gere página de Facebook (daí o meu primeiro contacto ter sido com ela), falámos sobre as necessidades do grupo, dos gatos que acolhiam e em que âmbito seria melhor empregue a minha ajuda. Com alguma infelicidade, ela disse-me que o problema eram os gatos que acolhiam que, por alguma razão, eram considerados menos adoptáveis (problemas físicos, mentais ou até o facto de serem pouco fotogénicos eram citados como razões). Por isso mesmo, decidi que era importante trabalhar com esse grupo de gatos e tentar dar-lhes a chance que mais ninguém parecia querer dar. Cada gif animado foi baseado no bichano correspondente, ou seja, as suas características físicas, psicológicas e a sua história pessoal eram todas verídicas."

A Bichanos do Porto é um óptimo exemplo de solidariedade pois trata-se de um grupo reduzido de pessoas que adoram animais e que a ajuda e o amor é parte das suas vidas. "Eles não têm instalações oficiais, funcionando em vez disso através das suas próprias casas e FATs (Famílias de Acolhimento Temporárias). Por causa de uma fracção do projecto (os gifs animados) se debruçar sobre gatos específicos, os considerados menos adoptáveis, parte do meu trabalho consistia em visitar esses gatos, para conhecer as suas histórias, as suas personalidades e, claro, as suas aparências físicas (todas estas visitas terminavam em sessões fotográficas com os bichanos, umas vezes apreciadas, outras não!). Uma das melhores coisas disto, é claro, é poder justificar passar tempo a fazer festas a gatos como trabalho! (risos) Todas as minhas memórias desses tempos são óptimas, as FATs mostravam-se sempre disponíveis e simpáticas, os gatos, quer apreciassem a atenção ou não, eram sempre óptimos de conhecer e, claro, tinha sempre a companhia da Mafalda, que como uma boa guia deste mundo felino, oferecia sempre um relato minucioso sobre cada gato. Embora todos os gatos sem excepção tenham sido óptimos de conhecer, destaco dois amores pelo qual me apaixonei irremediavelmente, pelo seu carinho imensurável e natureza incrivelmente dócil: o Zygano (Ziggy para os amigos) e o Sip Tree. Estes eram os gatos que, apesar de terem uma estranha a invadir os seus territórios e a apontar-lhes uma máquina fotográfica à cara (ou, em melhores termos, focinho), mostravam-se sempre prontos para brincar e receber uma chuva de mimos e festas, seguindo-me pela casa fora. Infelizmente, e quebra-me o coração dizer isto, devido a complicações de saúde, o Ziggy já não está entre nós. Já o Sip Tree, um doce de gato cujo único obstáculo para a adopção são os seus problemas neurológicos que o fazem mover-se de um modo invulgar, ainda se encontra para a adopção e está neste momento à espera que alguém se apaixone por ele e que o queira levar para casa."


A decisão de utilizar a ilustração e animação como forma de transmitir a mensagem que pretendia foi bastante natural para a Filipa e o que podemos encontrar são gifs que sintetizam na perfeição alguns dos bichanos que conheceu e ainda vídeos promocionais que apelam à adopção e demonstram, de uma forma divertida, que há vantagens em ter um gato por perto. 
"Os meus interesses académicos e profissionais assentam muito nas áreas de ilustração e animação, por isso foi apenas natural explorá-los também neste projecto. Outra das razões para ter optado por estas técnicas neste projecto foi a saturação do uso da fotografia, normalmente aliada a uma narrativa forçadamente triste e fatalista, nas campanhas de solidariedade para os direitos dos animais. Achei que era necessário haver uma inovação nesse sentido e criar algo divertido e colorido para quebrar esse paradigma e mostrar a importância desta temática num tom agradável e até humorístico. Nesse aspecto, a ilustração e a animação, sob a forma de gifs animados e vídeos sensibilizadores, pareceram-me técnicas perfeitamente adequadas para passar essa mensagem."

"O processo criativo dos gifs animados foi mais fácil que o dos vídeos, pois tratavam-se de casos e objectos de representação mais específicos. Os vídeos, por apelarem à adopção de gatos daquela associação num âmbito mais geral, levaram mais algum tempo e esforço para conceptualizar. O primeiro foi mais fácil, pois por ser realizado no âmbito da unidade curricular de Vídeo II, tinha que obedecer à primeira proposta de criar um spot publicitário. Nesse sentido, o conceito era mais directo e corria poucos riscos, passando apenas a mensagem essencial de apelar a uma adopção responsável de um modo mais “directo ao assunto”. O segundo tratava-se de uma proposta livre e, como o primeiro já cumpria o propósito de ser um vídeo promocional mais ortodoxo, houve espaço para fazer mais experiências e correr mais riscos, tanto ao nível conceptual como visual. De qualquer modo, o processo criativo de ambos passou por vários passos básicos: primeiro, a fase inicial de conceptualização e a consequente realização de um storyboard, que teria sempre de passar pelo professor orientador do projecto e pelo professor da unidade curricular; a fase de desenvolvimento visual, antecedida por uma fase de pesquisa, onde se realizavam esboços e animatics (uma versão evoluída do storyboard, com alguma animação básica e voz e banda sonora provisórias, uma espécie de esboço do vídeo final); a fase de desenho digital, onde se realizava toda a arte final para consequente montagem e edição; e por fim, a fase de composição do vídeo em si, na qual se juntavam todos os elementos de imagem e som para chegar ao resultado final."





Identificar o que está errado ou a correr menos bem pode ser o primeiro passo para alterar o comportamento ou a perspectiva que ainda se tem sobre estas realidades. Apesar da boa vontade e dedicação dos voluntários que estão todos os dias envolvidos nestas associações, estas carecem de muitas necessidades diariamente e é necessário intervir da melhor maneira possível, sempre que possível.
"Há muita coisa errada na maneira como as pessoas olham para os animais de estimação nos dias de hoje. Muitas vezes as pessoas consideram os animais não um membro da família pelo qual são responsáveis, mas quase um objecto, que é giro em bebé, dá para tirar fotografias e mostrar aos amigos, mas que depois é facilmente descartável quando já não “servir”. Os animais velhos, doentes, feios, tímidos, ariscos, em suma, diferentes merecem tanto amor e atenção como os restantes e quando pensamos em adoptar devíamos pensar neles também, em vez de apenas em bebés perfeitinhos e bonitinhos."

A Filipa deu o seu contributo para melhorar o mundo destes gatos através do seu trabalho, oferecendo-lhes o seu tempo, atenção e, claro, as suas qualidades enquanto ilustradora. Um pequeno contributo vosso junto de associações como estas é tão ou mais gratificante do que uma adopção. É possível fazê-lo desta forma, mas há muitas outras.
"Se estão interessados em ajudar qualquer associação de animais de qualquer sítio do país, há quatro coisas essenciais que podem fazer, por ordem de importância: adoptar, doar, voluntariar e divulgar. Compreensivelmente, depende da situação de cada um o tipo de ajuda que podem estender aos animais em apuros e às associações que os abrigam, mas se não têm espaço ou vida para adoptar, doem dinheiro, ração, mantas, etc.; se não têm dinheiro ou materiais para doar, tornem-se voluntários; se não têm tempo ou condições para serem voluntários, ajudem a divulgar a informação, quer esta chegue de boca em boca, por panfletos e cartazes ou via redes sociais, não custa nada partilhar essa informação. Qualquer gesto na direcção de animais carentes, por muito pequeno que seja, ajuda mais do que pensamos."

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